domingo, 24 de janeiro de 2010

Preservar Uma Vez na Vida!


"Terminou 2009. Felizmente.
Na verdade o ano que findou foi negro para o Património Arqueológico de Braga e para memória histórica de uma das mais ilustres cidades da Hispania.
As destruições ocorridas na Avenida da Liberdade, em consequência do prolongamento do túnel e da nova construção que está a ser erguida no antigo edifício dos CTT e terrenos adjacentes, constituem uma das páginas mais tristes da História recente de Braga.
Comprovou-se, amargamente, o que os arqueólogos que trabalham na cidade e muitos bracarenses mais atentos sempre tinham afirmado: o excepcional valor do subsolo do Centro Histórico e zona envolvente.
Descobriu-se que sob o pavimento da Avenida da Liberdade, por onde transitam diariamente centenas de automóveis, jazem as ruínas de um templo. Este achado obrigou a desviar o saneamento principal do túnel. Todavia não houve, no afã de completar as obras em prazos eleitorais, um compasso de espera a fim de se estudar com o necessário rigor científico as estruturas rapidamente soterradas.
Por outro lado nas terraplanagens de prolongamento do túnel (uma obra inútil, entre as muitas que contribuem para o aumento exponencial da dívida pública) foram removidos objectos e alicerces de casas medievais e da Idade Moderna, bem como as sepulturas da época romana que
ainda se conservavam sob o asfalto.
Desapareceram assim talvez os últimos testemunhos do sector Norte da antiga rua das Águas e de parte da necrópole da via entre Bracara e Aquae Flaviae (Chaves). Foram elaborados registos de acordo com os limites que prazos apertados permitiram. Mas quais foram os fundamentos dos pareceres e despachos que autorizaram a remoção de património?
Efectivamente a Lei portuguesa reserva para uma única autoridade o poder de decidir sobre os vestígios arqueológicos: o IGESPAR (Instituto Gestão Património Arquitectónico e Arqueológico). Porque condescendeu esta entidade com o projecto do prolongamento do túnel quando muitas vezes é inflexível no desenho da renovação de uma fachada, ou no material a aplicar numa janela de uma casa do Centro Histórico? Se a obra do túnel não era de todo um problema de vida ou morte, porque a facilitaram?
O quarteirão dos CTT há muito que estava referenciado como um espaço ultra sensível. O promotor, supomos, estava informado desta circunstância ou se a ignorava a responsabilidade é do executivo da Câmara Municipal de Braga.
As primeiras sondagens confirmaram as expectativas, pois foram descobertas sepulturas da época romana. Mas não só! O alargamento dos trabalhos revelou o traçado da via XVII (incluindo sucessivas repavimentações e o sistema de drenagem) bem como um conjunto edificado situado no canto Sudeste do quarteirão, ou seja a Sul da via romana e a Norte da Fonte do Ídolo.
A descoberta dos alicerces desta possível extensão daquele santuário constitui uma das mais relevantes novidades do projecto de Bracara Augusta, desvendando a possibilidade de em redor da Fonte do Ídolo existir um vasto complexo de estruturas rituais. Estes vestígios por si mesmo recomendavam que o parque automóvel subterrâneo fosse excluído do projecto tal como a ligação ao túnel, fossem quais fossem as consequências.
Do ponto de vista legal qualquer projecto em áreas de grande sensibilidade arqueológica fica condicionado às descobertas efectuadas. Ao autorizar o parque subterrâneo, embora exigindo a conservação do miolo daquele conjunto romano, mais uma vez o IGESPAR facilitou de novo. Foi uma solução de compromisso, pode alegar-se. Mas o balanço da negociação foi desfavorável ao Património Arqueológico.
Actualmente quase todos os economistas insistem: um dos principais problemas de Portugal decorre do investimento excessivo em obras públicas dispensáveis e no imobiliário, em detrimento da qualificação da mão de obra e de outros sectores do tecido produtivo.
Ora Braga possui muitas potencialidades uma das quais é o Turismo e no qual se inclui o Património. Em 2009 o executivo camarário, presidido pelo Eng. Mesquita Machado desperdiçou esse capital turístico e teve o beneplácito do Ministério da Cultura.
Consumado o disparate e porque não vale a pena chorar mais sobre leite derramado, neste caso sobre passado destruído, formulamos votos para que, terminado o furor eleitoral, o novo ano de 2010 seja um tempo de Esperança.
Não posso aceitar que estejamos condenados à vil tristeza de um futuro sombrio corroído por betão de má qualidade e cosmética arquitectónica de gosto discutível. Acredito que a opinião pública de Braga, as instituições e associações que valorizam a cultura e o património, bem como a Universidade do Minho (designadamente através do Conselho Cultural e da Unidade de Arqueologia), têm capacidade para se opor a políticas ruinosas e obsoletas e propor alternativas.
Só assim a cidade poderá ser uma urbe competitiva, desenvolvendo novas ideias e projectando Cultura e Ciência.
Votos de um Bom Ano."

Por Francisco Sande Lemos, "Entre Aspas"
in Diário do Minho, 18/01/2010



E assim continuámos com as mesmas politicas em Braga, destruir destruir e destruir. As mesmas pessoas os mesmos erros do passado, e assim será até 2013. Destruir e gastar fundos que poderiam ser melhores usados.

Deixo um concelho ao Senhor Mesquita Machado, em vez de só usar o verbo destruir, poderia também usar o preservar e o recuperar. Porque de destruição e de desaproveitamento de oportunidades está o povo de Braga farto. E aqui deixo uma ideia, porque não aproveitar o grande património arqueológico que AINDA existe em Braga para nos projectar a nível nacional e até mundial como uma capital arqueológica. Só trairia benefícios, económicos e sociais. Trazer o passado de Bracara para Braga, os tempos de glória.

Cumprimentos

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